Mortes no Garimpo
Por: Antonio Braga Dias
No início dos anos 90, eu trabalhava na Delegacia Regional de Guajará-Mirim e fazia parte do setor de investigação, que contava com 22 policiais e tinha como chefe o respeitado colega policial João Lins Dutra, mas conhecido por João Pomba.
Em determinado dia, ocorreu um homicídio na então Nova Mamoré, quando mataram um taxista, cujo nome não recordo mais, tal crime de deu na Ponte da Misericordiosa, tendo o mesmo sido covardemente assassinado com um tiro na nuca, vindo posteriormente a se saber que esse taxista tinha matado uma pessoa há cerca de dez anos no Ceará e, portanto, o matador tinha sido contratado para executá-lo. Considerando que ali em Vila Nova só trabalhavam três policiais civis e essa Sub-delegacia, fazia parte da nossa Regional, então sob o comando de João, fomos em oito policiais até a localidade de Nova Mamoré.
Ao chegar naquele Distrito, verificamos que a Polícia Militar já tinha prendido um dos participantes do homicídio, cujo alcunha vulgo era “Gordo’, tendo aqueles militares entregue tal pessoa a nossa equipe. Na ocasião o Gordo informou que na realidade o autor do homicídio tinha sido o sujeito Luiz Estênio, que estava numa draga no meio do Rio Madeira na localidade Periquitos, onde se encontravam centenas de outras dragas.
Ao chegar ali já no final da tarde no Garimpo dos Periquitos, nos deparamos com uma equipe de policiais militares, comandada por um tenente, ocasião em que João Falou com o mesmo para solicitar apoio na abordagem a draga onde se encontrava o perigoso criminoso, tendo o oficial se recusado a cooperar, informando que já iria anoitecer e não poderia colocar os seus comandados em risco, pois em tal horário, com centenas de dragas encostadas umas as outras e alguns milhares de garimpeiros, seria uma operação bastante arriscada.
Diante da recusa dos militares, o chefe João Pomba decidiu retornar a base em Guajará-Mirim, para apresentar ao delegado o indivíduo Gordo e reunir toda equipe para retornar aos Periquitos cedo da manhã seguinte.
Já de manhã por volta das 7 horas, estávamos ultimando os preparativos para a operação, quando apareceu o policial Lindebergh, que era o encarregado da Polinter da nossa delegacia, que curioso, perguntou a João que estava acontecendo e ao ser informado da operação, demonstrou interesse em seguir junto, tendo João dito ao mesmo que não era necessário, pois a equipe já era numerosa, mas ele Linderberg mesmo assim resolveu ir junto, pegando na sua sala uma espingarda calibre 12.
Ao chegar à área do garimpo, conseguimos quatro barcos conhecidos como voadeiras, para o transporte da equipe até a draga onde estaria o procurado Estênio. Ao nos aproximarmos, João então resolveu que deveríamos desembarcar um pouco antes e seguir andando por cima das dragas, até chegáramos de surpresa à draga onde possivelmente estaria o assassino do taxista.
Chegando a equipe em tal draga, o indivíduo que estava sendo procurado fugiu para parte de cima, sendo seguido por alguns policiais, enquanto os outros abordavam os garimpeiros que ali trabalhavam, solicitando identificação e na procura de armas, ficando eu, Lindeberg e João na parte de baixo da draga, porém o um barulho ensurdecedor dos motores não permitia sequer que houvesse comunicação entre nós, quando então mesmo assim, conseguimos ouvir um grito entre nós e ao observarmos vimos então Lindenberg já no chão, indicando que poderia ter sido alvejado por um tiro, porém ao examiná-lo verificamos que não existia nenhum ferimento, tendo João dito então que ele poderia ter sofrido algum ataque cardíaco e que deveria ser socorrido de imediato.
Naquele instante o policial José Nilton Dias, mais conhecido por Capixaba, ainda muito jovem e forte, sozinho apanhou Lindberg do chão e com ele nos braços praticamente se jogou numa voadeira que se encontrava encostada na draga, ordenando seguir imediatamente para a margem, pois o colega precisava ser socorrido. Confesso que eu, que já tinha admiração por Capixaba, naquele episódio, tive a admiração ao colega Capixaba crescido mais ainda.
Logo depois os colegas apareceram com o individuo Luiz Estênio e algumas armas aprendidas, quando então decidimos voltar para a cidade de Guajará apo chegar à localidade denominada Porto de Tota, próximo a Embratel, lembrei ao colega João, que na véspera uns indivíduos da draga de José Aldo, que se encontravam apoiada ali perto, desafiaram os três policias de Vila Nova, pois usando uma arma ponto 30, atiraram contra os mesmos e agora estando nós ali nas proximidades e com um bom numero de policiais, seria bom buscar tais pessoas na citada draga, tendo João imediatamente aceitado fazer a abordagem, oportunidade que fomos então até tal draga e lá chegando foi um grande corre corre, tendo os ‘valentes’ da véspera se acovardado ao perceberem o bom número de policiais.
Na abordagem, em determinado momento, percebi um individuo se esgueirando no outro lado da draga e temeroso que estivesse armado desferi vários tiros de espingarda na sua direção e o mesmo sumiu sem que ninguém mais o visse, mesmo procurando depois tal pessoa em todos os lugares.
Ao chegarmos às proximidades do Distrito de Vila Nova tivermos a notícia via rádio de que Lindenberg tinha falecido e ao chegarmos em Guajará-Mirim encontramos ali grande comoção da família do mesmo e dos colegas policiais com muito choro pela morte repentina do colega que era muito querido por todos.
No dia seguinte o policial Pedro Lucas que dirigia para o delegado daquela regional, informou que havia aparecido um corpo na em Vila Nova e que o delegado iria lá, quando então bem desconfiado, solicitei a ele Pedro que verificasse se tal morte tinha a ver com os tiros que efetuei na véspera.
De volta da missão o policial Pedro bem sério, me chamou em particular e disse que o morto conhecido por Cazuza e que era o autor dos tiros contra os policiais de Vila Nova, estava cheio de marcas de tiros nas costas, quando realmente fiquei muito assustado, até que Pedro abriu um sorriso e revelou que tal pessoa na verdade havia morrido afogado, pois ao correr dos policiais em cima da balsa escorregou e por não saber nadar terminou morrendo.
Conclusão num só dia, além da morte do taxista que motivou toda a operação, tivemos a morte do garimpeiro Cazuza e lamentavelmente do nosso colega Lindenberg, ou seja, três mortes em um único dia.
Post:Adm G. Gomes
Colaboração: dr.Pedro Marinho
Informações: Sinpfetro
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